Dessensibilização Oral ou Imunoterapia Oral com Alimentos

O que é Dessensibilização Oral ou Imunoterapia Oral?

Até pouco tempo atrás, pessoas com alergia a um determinado alimento como o leite tinham de eliminá-lo da sua dieta e esperar até que a tolerância oral acontecesse expontaneamente.   Para casos especiais, pesquisas recentes tem demonstrado a eficácia de uma nova alternativa, a imunoterapia oral ou dessensibilização oral, que consiste em oferecer a proteína do alimento em uma quantidade extremamente pequena, de forma repetida e progressiva, como se estivesse ensinando o organismo a deixar de reconhecer aquele alimento como estranho. Este é um grande avanço no tratamento de alergias alimentares, pois a dessensibilização diminui a probabilidade de reações fatais em exposições acidentais, porém é importante ressaltar que, até o momento, este é um efeito transitório e que depende inteiramente da exposição diária ao alérgeno.

Na verdade, o príncipio do tratamento, chamado imunoterapia específica já existe a mais de 100 anos. Inicialmente indicado por via subcutanea para alergia a poeira e abelha e agora, também indicado por via oral para alguns alimentos.

Em 2014 realizamos a primeira dessensibilização a leite aqui no Ceará. A primeira paciente do Ceará foi uma menina de 6 anos que já tinha apresentado reações muito graves com leite e hoje está comendo todas as delícias com leite como bolos, chocolates, sorvetes, pizzas, entre outros. O último dia do tratamento (chamado dia D) foi uma festa e um momento de muita emoção.  Esta paciente deu uma ótima definição do tratamento, ela disse “é para ensinar o meu corpo a aprender a gostar de leite”.

Quais os pacientes tem indicação de fazer este tratamento?

É indicado a partir dos 5 anos de idade pois, antes disso, a alergia pode desaparecer sozinha. Muitos pais pensam: “Meu filho tem uma alergia muito grave, no caso dele não deve ter nada para ser feito”.  E são justamente estes pacientes que tem indicação do tratamento. São os pacientes que não podem nem encostar no alimento, ou que tem sintomas só com o cheiro. São os pacientes que já apresentaram o temido edema de glote ou que precisaram de adrenalina após uma reação. São também os pacientes que mesmo com todos os cuidados dos pais em evitar o alimento permanecem tendo reações por contatos acidentais. Por exemplo, realizamos a dessensibilização de um paciente de 18 anos com alergia a leite. Tudo vinha bem com ele até que ele entrou na faculdade e deixou de fazer as refeições em casa (feitas com muito cuidado pela mãe para não ter nem traços de leite).

O tratamento pode ser feito em pacientes que tenham alergia a leite e intolerância a lactose associados. Porém, não é indicado para pacientes apenas com intolerância a lactose.

Onde pode ser feito o tratamento?

Este tipo de tratamento jamais deve ser feito sem acompanhamento médico. Existe o risco de reações graves, por isso é preciso ter recursos de tratamento e profissionais habilitados para tratar uma reação.  Ainda é feito por poucos profissionais no Brasil.

Existe necessidade de fazer exames antes do tratamento?

Geralmente solicitamos exames de sangue, uma espirometria (prova de função Pulmonar) e endoscopia digestiva alta com biópsia. A endoscopia é para afastar que o paciente tenha esofagite eosinofílica, uma doença que pode estar associada a alergia a leite.

Também fazemos um teste cutâneo com o leite (ou outro alimento) diluído para saber em que dose devemos iniciar o tratamento. O paciente não deve tomar antialérgico uma semana antes deste teste e não pode estar com febre ou outros sintomas de infecção.

E o teste de provocação ou desencadeamento? Sempre precisa ser feito antes do tratamento?

Geralmente sim, para verificar se o paciente continua alérgico. Muitos pacientes já obtiveram a cura e nem sabem, pois há anos não tem contato com leite (ou outro alimento que sejam alérgicos).

Porém, alguns casos, quando o paciente apresenta uma história muito típica de reação recente com o leite, por exemplo, e níveis altos de caseína, o teste não é necessário.

Como é feito o tratamento?

O tratamento de dessensibilização oral com leite ou outro alimento consiste em administrar doses progressivas do alimento continuamente. A dose será aumentada 1 vez por semana, apenas nas sessões realizadas em presença da alergologista. Provavelmente serão 17 sessões, mas este número pode variar de acordo com o teste alérgico com o leite diluído ou com os sintomas apresentados durante o tratamento. As sessões duram aproximadamente 4 horas, assim, o paciente deve permanecer na clínica uma manhã (das 8hs às 12hs) por semana com um acompanhante responsável pelo paciente.

Assim, o paciente irá faltar aulas uma manhã por semana, geralmente nas 4ª ou 6ª feiras durante o tratamento. Além das sessões na clínica, o paciente precisa continuar tomando as doses de hora em hora durante todos os dias. O paciente deve portar um despertador ou ser avisado no momento da próxima dose.  O leite diluído deve ser armazenado em geladeira durante a noite e transportado durante o dia em isopor com gelo ou recipiente térmico. Pode ficar sem tomar as doses durante a noite (até 12 horas sem receber uma dose), reiniciando no dia seguinte. A primeira dose do dia seguinte deve ser feita após o café da manhã. Se for dia de sessão na clínica, pode deixar para tomar a primeira dose na clínica, desde que não ultrapasse as 12 horas sem tomar nenhuma dose.

O paciente precisa tomar algum medicamento durante o tratamento?

Sim, orientamos que o faça uso de antialérgicos e outros medicamentos durante o tratamento para diminuir o risco de reações. A prescrição do seu médico deve ser seguida durante todo o tratamento e até que seja orientado a suspender.

Quais são as reações que podem ocorrer durante o tratamento?

As reações adversas durante o tratamento são comuns; mais de 25% das doses podem estar associadas a sintomas adversos, na maioria leves. Quanto ao tipo de reação, podem ocorrer as mesmas reações que ocorreram com o alimento quando foi suspeitado de alergia. Muitos pais sabem dizer como começa a alergia do filho, por exemplo, “quando ele começa a coçar os olhos já sei que ele comeu alguma coisa com leite, depois vem as manchas vermelhas no corpo, tosse, etc”. Nesse caso, já ficamos mais atentos as coceiras nos olhos. Porém, qualquer reação pode ocorrer e por isto tem que ser feito em acompanhamento com alergologista e com as medicações necessárias para tratar uma reação.

As reações mais graves são chamadas de anafilaxia. Estas são reações que geralmente acometem mais de um órgão ou sistema e podem ser fatais.  Geralmente acometem pelo menos dois dos abaixo:

– Pele: manchas vermelhas, coceira, inchaço nos lábios, olhos, orelhas.
– Gastrointestinal: vômitos, diarreia, dor abdominal.
– Respiratório: tosse, chiado, falta de ar, rouquidão, espirros, coriza e obstrução nasal.
– Cardiovascular: queda da pressão, desmaios.

As reações graves são mais prováveis de ocorrer durante as sessões realizadas na clínica na presença do alergologista, onde serão prontamente tratadas. Porém, todo paciente que está em tratamento deve portar sempre consigo a adrenalina auto-injetável e um plano de emergência por escrito.

Quais os gatilhos que podem aumentar o risco de reações durante o tratamento?

O mais comum é o exercício físico. Outros gatilhos são infecções, período menstrual, álcool, antinflamatórios não esteroidais e estresse.

E depois que terminar o tratamento, quais cuidados são necessários?

Para manter o tratamento o paciente precisa continuar tomando leite ou comendo alimentos com leite. Ou seja, se parar de tomar o leite o paciente pode voltar a ter reações.

Mesmo continuando a tomar leite todos os dias o paciente deve manter acompanhamento médico. O primeiro retorno deve ser com 30 dias.

Algumas reações, geralmente leves, ainda podem ocorrer após o primeiro ano de tratamento. Porém, a dessensibilização oral diminui o risco de reações fatais em exposições acidentais e pode melhorar o convívio social dos pacientes e familiares.

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